Luzes da Madrugada


             Em um prédio localizado no centro de uma cidadezinha charmosa apenas duas janelas ficavam com as luzes acesas na madrugada. Elas eram vizinhas. O andar era o oitavo.
            Na janela da direita , visto da rua , a luminosidade era aconchegante. A impressão que dava era de ter somente um abajur aceso. Já na janela da esquerda, a luz era forte, branca,viva. Parecia que muitas pessoas naquele apartamento frequentavam.
            Os dias passavam e todas as noites aquela cena se repetia.O contraste era tão forte que todos habitantes da pequena cidade comentavam sobre as famosas janelas.

            O relógio apontava três da manhã quando Igor se revoltou com o barulho ensurdecedor que vinha do apartamento vizinho - Igor era um rapaz aparentemente esquisito, com ninguém falava (as pessoas até comentavam da hipótese dele ser mudo).O rapaz então saiu de seu apartamento e a campainha do vizinho tocou. Quando Marina abriu a porta, uma garota jovem, franzina de cachos ruivos, Igor sem palavras ficou.Ele apenas conseguiu mergulhar em seus olhos esverdeados.Marina por sua vez, sem entender, ficou curiosa, pois sabia da fama de seu vizinho e, naquela hora, para ela, aquele rapaz pareceu ser uma pessoa amável, sensível e ingênua.
           
            Marina, uma pessoa festeira, adorava manter sua casa cheia de amigos.Era uma menina super comunicativa ao ponto de fazer amizade em todos os lugares que aparecia. Mas no momento em que viu Igor seu coração disparou. Ficou muda, sem palavras. Aquele olhar solitário e calado fizera com que a doce menina se apaixonasse perdidamente.Sua vida a partir daquele dia mudaria completamente.

            No outro dia Igor não saiu de manhã como de costume.Ficou dentro de seu apartamento o dia inteiro.O rapaz misterioso nunca havia sentido algo parecido.Estava cego e também apaixonado e não entendia o motivo. Marina aparentemente nada parecia com ele.

            Na manhã seguinte Marina notou a porta de Igor aberta. Se aproximou e não aguentando de curiosidade adentrou cuidadosamente. Ao pisar dentro daquele apartamento viu o corpo de seu amado ao lado de um simples abajur de cor vermelha. Igor estava morto.No chão próximo ao corpo, pílulas brancas. Marina sem entender e já chorando avistou uma carta em cima da velha escrivaninha:



Eu fracassei
Me perdi
Na primeira vez
Em que amei.

O fogo que via
Me queimei.
Seda indiana
Pele macia.

Deus, a ti peço perdão
Não fui forte o bastante
Fracassei.

Dos meus papeis
Minhas poesias
Ela surgiu: eu amei.

            As duas janelas desde então se apagaram para sempre.O amor que alí surgiu se foi com as luzes misteriosas.
            Acabou-se a alegria. Hoje, Marina comprou um abajur vermelho ,e, em seu novo apartamento, ela o deixa sempre ligado esperando poder amar novamente.