O alívio desesperado

            Sete anos Manoel tinha quando da família se perdeu.
            Numa tarde fria e chuvosa, Anderson, Martha e Manoel resolveram ir à casa de campo da família. Parecia ser um começo de fim de semana normal para aquela família de classe média alta.
            Na estrada, poucos carros tinham. Com certeza o mal tempo colaborou para isto acontecer. Foi então, já quase no meio da viagem, que o carro sem explicação pifou. Anderson, um homem calmo e sereno, naquele dia ficou assustado. Por sorte, a família Seixas estava passando em frente de um hotel beira de estrada. Manoel no banco de trás, aparentemente nada entendia, só aparentemente.
            Anderson encostou seu monza cor de chumbo quase na entrada da pousada e para Noel, apelido de Manoel, disse:
              ----Não é para ficar com medo. Está tudo bem filhinho. Fique aqui no carro. O papai e a mamãe já voltam. Nós vamos ver se tem lugar para dormirmos está noite.
Manoel com a cabeça concordou.
            A aparência daquela casa era sombria. Não tinha um carro se quer no estacionamento e apenas uma luz estava acesa, a da recepção. O pesadelo de Noel começara a partir daquele momento.
            O tempo foi passando e nada dos pais de Manoel voltar. O garotinho começou a se assustar com o barulho do vento e a escuridão. Neste momento, ele então abriu a porta do carro e foi atrás de seu pai e sua mãe.
            Quando chegou à recepção não viu ninguém. O balcão alto não deixava o menino baixo enxergar se realmente havia alguém por ali. Como qualquer criança, sabia que o único jeito de chamar a atenção era gritando. Manoel então começou a gritar:
         ---- Papai?? Mamãe??? Onde vocês estão??
            A gritaria permaneceu pelos próximos dez minutos. Eis que surgi um homem barbudo, gordo, cego de um olho e sujo, muito sujo.
         -----Quem está berrando? Perguntou o homem assustador com sua voz grossa.
            Manoel quando o viu ficou apavorado e começou a gritar mais ainda. Para completar, a barba do gorducho estava cheia de sangue - Noel podia reconhecer o que era sangue, pois uma vez se cortou brincando com a faca afiada de cortar carne de seu pai.No mesmo instante o garotinho inocente já imaginou o que tivera acontecido com seus pais: Aquele homem asqueroso comeu seu pai e sua mãe e o deixou de sobremesa.
            Dentro do hotel, Manoel avistou um corredor imenso. O garoto só enxergou aquele lugar para correr e fugir do canibal.
            Quando o homem deu a volta no balcão, Noel foi em direção do corredor gritando sem parar. Atrás dele, um urso desesperado por sua presa. Ao chegar no meio do corredor , o menino começou a escutar alguém chamando por ele. Parecia seu pai. Neste instante, o corredor começou a se transformar em labirinto e a voz parecia cada vez mais nítida. Quando estava chegando à última porta do corredor, o Barbudo o pegou e...

            Manoel, Manoel, acorda. Já chegamos. Pegue seus brinquedos e vamos.
Com um suspiro aliviado o garoto Noel ergueu-se do banco traseiro e com o maior sorriso do mundo pegou seus brinquedos e para a casa foi enquanto seu pai e sua mãe descarregavam o carro.
            O tempo foi passando e nada de seus pais aparecerem. Quando saiu para procurá-los, ninguém mais estava por lá.