O garoto que aprendeu a amar

             Em uma vila discreta vivia um garotinho humilde, baixo e muito inteligente.João Henrique, nome herdado de seu tio, era um menino prodígio. Mesmo com seus 11 anos, se portava como gente grande. Falava sobre todos os assuntos com propriedade. O garoto não saía da grande biblioteca de seu avô.
            Na manhã de seu aniversário, João entrou na biblioteca como sempre fazia. Naquele grande galpão tinham aproximadamente cinco mil livros. Eram tantas as prateleiras que o menino sempre se perdia dentre elas. Mas naquela manhã algo diferente ele notou. Na velha mesa que costumava folhear inúmeras páginas, o garoto viu uma carta. O papel era muito velho. Além da curiosidade, ler aquele texto se tornou um desafio:

            Aqui estou mais uma vez, tentando encontrar o sentido de uma vida vazia. Ta tos livros col  cionei e para qu ?
            Só hoje, 13 de junho de 1973, com uma doença grave con segui entender o sentido d vida.
            Deus nos proporcionou a inteligência e o amor. E nós, como retribuímos?

            A carta realmente estava em mal estado. Não foi possível terminar a leitura. Mas João Henrique sabia do autor daquelas sinceras palavras. Seu avô, Carlos Marinho, nunca acreditou em Deus, mas quando descobriu sua doença, uma espécie rara de câncer, começou a se questionar diariamente. Uma vez, João ainda pequeno, cinco anos aproximadamente, presenciou seu avô chorando sozinho na mesma biblioteca de que tanto gostava. As frases resmungadas terminavam com o mesmo questionamento: Por que meu Deus?

            No restante daquele dia o garoto não conseguiu ler mais nada. Aquelas palavras soaram tão verdadeiras, que o menino de doze anos, completos naquele dia, nada mais conseguiu fazer, a não ser pensar .

            Setenta anos se passaram. João Henrique já bem velho com sua bengala de madeira adentrou na mesma e velha biblioteca como fizera nos seus últimos setenta e cinco anos, apoiou seu único companheiro e abriu um livro fino de culinária onde tinha deixado aquela carta que lera com seus doze anos. A folha estava intacta e conservada.

            Então, já tremendo por carregar uma doença terminal, completou o texto de seu avô:

            Ler é importante para sabermos o que os outros pensam, sentem e querem. Registramos tudo. Mas às vezes nos esquecemos de rezar e pedir ao nosso Deus fé e amor para contribuirmos ao nosso mundo necessitado.
            Nós retribuímos ajudando como podemos. Mas sempre podemos um pouco mais.
            Obrigado vovô por me proporcionar com sua sabedoria o meu entendimento sobre a vida.